quinta-feira, 30 de abril de 2009

Perdi um amigo
Os deuses bem que tentaram impedir aquele acontecimento. O céu até desabou no dia anterior. As ruas ficaram alagadas. O bueiro jorrava água como se fosse a fonte da velha praça da cidade. Era algo não muito típico na minha vida. Um enxame de abelhas também chegou a dar o aviso. Mas a dor da perda é inexplicável. Ela nos remete ao passado em busca de uma (falsa) tentativa de solução. Mais ou menos isso. E é assim que tento entender o que aconteceu com o meu melhor amigo. O que interessa é que situações muito divertidas foram compartilhadas nesse curto tempo: assuntos pitorescos nos piores botecos da cidade, jogos de bilhar com a ausência das bolas ímpares, piscina do clube no inverno e saídas de carros atrás de qualquer mulher disposta a transar às duas da manhã de uma quarta-feira. Tudo era maravilhoso – até mesmo quando um ou outro beijava a menina mais feia da festa. As gargalhadas eram a simples síntese daquele desastre romântico. Foi divertido enquanto durou... Hoje, infelizmente, nada disso é mais possível. As coisas mudaram. As cervejas não terão mais o gosto da juventude. As mulheres, então, serão totalmente inatingíveis.A vida pôs um ponto final nesta situação. E esse final teve um início. Uma noite quente de dezembro. Coincidência ou não, a chuva caía impiedosamente. Os mais bajuladores diriam que os céus estavam derramando lágrimas por aquele momento insólito. Eu diria que aquilo já era um prelúdio para o fim que já estava próximo. A dor perdurou um pouco mais. Talvez alguns meses, eu não me recordo direito. Nem mesmo o calor intenso fez as pessoas trocarem as vestes pretas. Preto de luto, de lástima, de tristeza. O coração estava ansioso. Os outros amigos chegavam com passos curtos, como aqueles que andam sem querer chegar. Os meus pensamentos sobrevoaram aquela pequena sala. Pensava num passado feliz que não voltaria nem mesmo através das minhas lembranças. Quando voltei ao normal, observei uma senhora que, timidamente, enxugava as lágrimas. Comecei, então, a prestar a atenção nas palavras daquele homem que mais parecia um profeta com os seus trajes sóbrios. Ele falava de amor, carinho. Mas logo ele me chamou. Tive que ir lá frente e assinar um papel. Com o rosto vermelho de tanta vergonha, segui até a mesa da frente e escrevi, com as mãos trêmulas, meu nome. Era a hora dos abraços e dos desejos infinitos de felicidades. Muita emoção. Foi difícil segurar as minhas lágrimas quando cheguei perto do meu amigo. Resisti. Mas eu sabia que aquela situação era irreversível. Já estava sacramentado. Ele acabara de se casar.
Vinícius Novaes

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Deixa deixa deixa, eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar.
Eu não sou do tipo de pessoa que tenho medo de muitas coisas. Tirando aqueles comuns a todos os não-heróis do mundo, tipo doença, morte, sofrimento, só tenho medo de umbigo mesmo. Normal, né? Né?
Mas existem uns medos escondidos, pendurados na perninha de algum neurônio perdido, que são discretinhos, discretinhos. Eles rondam a nossa vida, fazendo um jogo de cordialidade: eu não apareço e você faz o que eu quero, eles negociam.
Pensando sobre isso, achei o meu medo categoria camuflado: o de medo de ser inconveniente.
E dá-lhe sapo pra dentro do bucho, afinal, o que importa é agradar sempre, não é mesmo?